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Os órfãos da guerra

Senhores editores e responsáveis pelos meios de comunicação, meu nome é Marcus Vinicius Rosalem e escrevo este texto poucas horas após enterrar meu irmão Mauricio Ricardo Rosalem. Ele estava com 37 anos, era casado e pai de dois filhos, um de oito anos e outro recém-nascido, de 5 meses.
Moro em Mirandópolis-SP, cidade com 27 mil habitantes, encravada por penitenciárias. Meu irmão nasceu e foi criado aqui. Morou em Pirajuí-SP nos últimos seis anos, cidade também entrincheirada por penitenciárias. Foi Diretor de Disciplina na Unidade I nesse período e há oito meses, a pedido, foi emprestado à FUNDACAÇÃO CASA em São Paulo.
Era feliz. Era o irmão palhaço. Brincava, colocava apelido em todos. Ascendeu na carreira por mérito. Com 27 anos já era diretor. Líder natural, terceiro de cinco irmãos, sobressaía com naturalidade. Ótimo jogador de futebol, na adolescência foi sondado por clubes profissionais, só não indo adiante pela morte precoce de nosso pai, aos 40 anos, de quem era ídolo.
Tratava bem a todos. Podem conferir. Chamavam-no de “Bomricio”.
Seu ônibus seguiria para a capital às onze e quarenta da noite de sábado. Dez minutos antes, enquanto conversava com o filho no celular, foi covardemente atacado pelas costas, com golpes de faca. Ainda perguntou para o assassino o que ele tinha contra si. Sim, ele o reconheceu. Era um dos presos que trabalhavam na horta. O cidadão ficou no terminal rodoviário o dia inteiro esperando pelo meu irmão.
Agora sua morte irá para a fria planilha oficial. O governo e o secretário de segurança pública virão dizer, apressadamente e sem mergulharem nos fatos, de que se trata de mais uma fatalidade, e os que os índices de homicídio estão diminuindo. E que meu irmão não morreu em serviço blábláblá....
A guerra está aí, deixando seus órfãos.
Como diz a música.
“A vida passa lentamente E a gente vai tão de repente Tão de repente que não sente Saudades do que já passou...”
É garota, eu vou pra Califórnia

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